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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
Oh happy days...la, la, la,la....
E hoje estou assim...Com uma vontade de cantar...
Sei lá!
Estou feliz.
Foi dia de mais uma consulta com o Dr. Supra-sumo, que operou e acompanha o meu pai...
E gostei, ou melhor amei o que o Dr. Disse em relação ao meu pai.
Afinal os prognósticos só se fazem mesmo no final do jogo e, pelos vistos o final ainda vem longe...
Melhor para nós, para podermos desfrutar da sua companhia por mais tempo...
Até me disse que devia ir de férias descansada, pois ele ainda tem mais consultas durante o mês de Abril...
Estou mesmo feliz...
Apesar do cenário não ser bonito, ainda nos conseguimos rir das situações caricatas que nos vão acontecendo...Como o facto de o meu pai mal andar, mas insistir em descer as escadas sozinho! Ainda hoje lhe disse, qualquer dia empurro-te que as desces duma vez! Foi um farto-te de riso...
Temos luz no fundo do túnel...Contra todas as expectativas, os três meses iniciais já passaram a seis e, as perspectivas são as de ainda termos mais uns tempos...
Decidi não criar expectativas e viver o tempo que lhe for concedido...
O Dr. Supra-sumo é tão porreiro, que na sexta-feira até me vai tirar um “caroço” que resolveu aparecer-me na mão esquerda...O que diga-se de passagem não é fixe...Dói, e para conduzir e fazer as tarefas normais torna-se complicado...O melhor de tudo, é que ele diz que se vir que a “coisa” fica feia no bloco, aproveita e corta-me logo a mão pelo pulso! Já lhe disse que não faz mal, ando só de pulseiras no coto que restar....
E estou feliz...
Pela primeira vez desde que começou esta “novela-portuguesa-com-laivos-de-mexicana-mas-sem-banda-sonora-pimba”, sinto esta espécie de contentamento que me dá vontade de cantar e rir!
I feel good...la,la,la,la....
(E vejam lá, que sou tão descrente, que até estive à conversa com duas freiras 5 estrelas!)
(http://www.elizabethgilbert.com/images/eatpraylove-lg.jpg)
Para quem já viu o filme, acho que sabe perfeitamente o que preciso...Encontrar-me no meio desta barafunda.
...
(http://dl3.glitter-graphics.net/pub/64/64642sc3yodkpvh.jpg)
187 dias se passaram desde que começou esta batalha titânica.
Um conjunto de células resolveu explodir, com toda a sua malignidade e, sabe-se lá desde quando, tornando um homem simples, de família, num guerreiro numa batalha tão desigual como o mundo...
A vida não são só planicíes, são cumes, são montanhas, são brisas e tempestades...Esta familia foi apanhada no centro de uma.
187 dias...
O primeiro dia foi o da perplexidade! Afinal também nos pode tocar a nós, a vez de sofrer horrores perante um oponente invisível e indestrutível...Estas visões quase me transportam para aqueles filmes negros de batalhas entres bons e maus, só que nesta, no final o mal irá vencer...
...
Sinto o meu propósito hoje mais lúcido nisto tudo. Primeiro recusei-me a aceitar que o meu pai iria morrer, mas vai e, quanto a isso nem eu nem ninguém poderá fazer absolutamente nada.
Sei que tenho de o acompanhar por mais que me custe. Por isso andei tanto tempo perdida entre o estar ao pé ou estar longe...Quero estar ao seu lado. Em todos os momentos. Quero que ele saiba da minha boca que não podemos fazer nada, mas que ele não tem de se preocupar, pois sabe que lhe herdarei a força, coragem e determinação. Ele sabe que não baixo a guarda e dou luta, quando acho que vale mesmo a pena...
Tinha o costume de nunca me despedir dele, mesmo quando saia só para ir trabalhar. Agora faço-o sempre...Hoje sorri-lhe, mas ele não correspondeu. O que os olhos dele me disseram foi que está cansado, que quer que termine o seu suplício em breve...Eu também. Estamos todos esgotados...
Esta semana, e em jeito de despedida, pediu-me para me sentar ao seu lado...Para estar ali. Só ali.
Sinto que todos os dias dizemos mais um bocadinho de adeus, que no fundo, bem no fundo, eu quero acreditar ser um até já...
Passo a vida a questionar tudo. Ando entre o cepticismo e o pragmatismo, ou entre a crença e o idealismo...Perdida.
Sei que me irei encontrar, que sairemos todos mais fortes desta querela, que forçosamente nos obrigaram a viver...
Vou-te ajudar pai...Depois, depois hei-de encontrar-me por aí....
Mais um dia...
Afinal o que vaticinavas ser o teu último dia já passou...E tu cá continuas na tua vida de doente.
Hoje custou-me horrores ver a expressão do teu olhar, talvez por isso não consiga estar muito tempo perto de ti...Ontem trocaste-me as voltas! Senta-te aqui...Faz-me companhia... Lá tive eu de me armar em mulher Hercúlea...Parece cada vez mais que vivo uma vida de faz-de-conta...
Faz-de-conta que estou bem disposta, faz-de-conta que estou feliz, faz-de-conta que não se passa nada...Quando na realidade e, fosse dada a tendências suicidas, provavelmente já tinha posto um ponto final em tudo...Mas não, quero cá estar. E bem acordada e a absorver tudo...Chamem-me tola, dramática, doida, masoquista...Mas tenho o direito de pensar que, depois de ver aquela expressão tão triste, aquele olhar que me ficou gravado no coração, alguma coisa de muito, extraordinariamente feliz e bom, terá de advir de todo este sofrimento...Não quero ficar a pensar que isto jamais passará...
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Afinal o pai do meu filho, “só teve”, uma ulcera nervosa rebentada! Com direito a transfusão sanguínea, a estadia na U.C.I.P. E a visita do “supra-sumo” cirurgião que o operou...O tumor dele, segundo o Sr. Dr. “Sumidade” está a hibernar. No caso dele é tudo uma incógnita. Para já ficámos com o susto...O susto ao melhor estilo SAW...Enfim.
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Há uns tempos numa conversa com uma amiga, tentei explicar-lhe como me sentia em relação ao que está a acontecer ao meu pai...Sabes Sandra, perdi três bebés e, hoje posso garantir-te que não sofri tanto...Elas morreram sem eu ver dentro de mim...Não senti o seu sofrimento, só o meu...Com o meu pai é diferente. É vê-lo morrer diariamente,literalmente, à fome diante de mim e nada poder fazer para lhe valer...É horrível dizer isto e pensar assim, nem tão pouco sei se é normal, mas custou-me menos lidar com a perda das minhas três meninas, do que me está a custar lidar com a doença do meu pai...Elas morreram, diagnosticou-se o aborto retido, procedeu-se à curetagem uterina e já está...Passaram-se meses, anos, até conseguir lidar com a perda...Com muita ajuda. Química, devido a duas depressões, e humana, com a ajuda do http://www.projectoartemis.pt/ .Até hoje, sei que ela não conseguiu lidar com o que lhe disse...Penso que ainda o deve estar a digerir...
Sandra, se algum dia chegares a este post, tenta ver se agora ele te faz algum sentido...
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E de maneiras que é isto...Passam os minutos, as horas, os dias...E a vida, estas vidas interligadas como peças de puzzles, seguem os seus lentos rumos...
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