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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
Hoje chamaram-me megalómana.
Porque defendo o que acredito e, luto pelo que ambiciono.
Também gostam de me chamar arrogante, por dizer o que penso, sem ter medo de quem oiça...Têm sempre duas hipóteses, ou ficam e ouvem, ou viram as costas e ponto final.
Gosto de escrever. Posso até por vezes, ter este ar de "prima donna" e achar que o que escrevo é bem e bom, mas também sei que pode ser bem melhor. Sei o que valho e quanto valho.
Sei também que neste país de "lambe-botas", é mais fácil alguém ser notado e publicado, não por mérito próprio, mas sim pelo grau de "lambidelas" que deu, ou pode dar...C' um catano! Então uma pessoa, que veio, assim, "rente ao chão", que até mora no bairro social e nem completou os estudos superiores, porque não tinha dinheiro para as propinas, não pode sonhar? Não me posso eu considerar digna, de um dia destes pôr "dedos ao trabalho" e escrever do principio ao fim a história destas duas famílias assoladas pela tragédia, que é ter de lidar com a doença cancro?
Por não ser escritora, famosa, ou lambe-botas, não poderei ao menos tentar?
Eu esfalfo-me a trabalhar, eu luto pelo que quero, eu divulgo o mais que posso e peço ajuda até, para divulgar o blog e a página do facebook, do Poppies...Achem o quiserem, pensem, julguem, a mim tanto se me dá...O que não admito é que achem que é por mera "insuflação" do ego. Há muito mais do que o meu ego naquilo que escrevo, há a necessidade de exprimir sentimentos, há a necessidade de chegar a alguém que se sinta tão perdida quanto eu, quanto nós...
No fundo acho que o mal de todos, é estarmos tão concentrados no umbigo e ignorarmos o que se passa à nossa volta...
Não preciso de palmadinhas nas costas, mas gostava muito que, com o que escrevo e, da forma como o transmito, poder ajudar alguém...
Será isso tão difícil de entender?
...
Parece que sim...O espírito de entre ajuda, a solidariedade, o altruísmo e a compaixão, pelos vistos já não moram aqui...E os valores morais que tanto deveríamos "cultivar" e defender, ficam reduzidos a chacota por mentes pequeninas...
O meu filho gosta de escrever para o pai. Gosta de lhe ir dar os bons dias e as boas noites antes de dormir. Gosta de escrever sobre ele, das coisas que partilharam, da falta que lhe faz, do que poderia ter sido e não chegou a ser...
O meu filho está a sofrer...E eu continuo aqui perdida, sem saber como lidar com isto, com ele...
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Acho que o instinto maternal também tem destas coisas, por vezes temos de nos sentir perdidos, para depois de ganharmos forças, sabermos como agir...
Mas dói pessoas, dói tanto que às vezes não sei o que é pior...Ele estar a sofrer por o pai ter morrido, ou estar a sofrer por não ter tido mais tempo, como teve nos últimos dois anos, para saber o que era ter pai...
...
E cá continuamos nesta vida, com estas coisas "maravilhosas", que esta doença "fantástica" nos trouxe...
Vejamos então, os acontecimentos dos últimos dias;
o meu pai caiu da sanita, atribuiu a culpa à minha mãe. "Foi ela que me empurrou!"...
o meu filho mais novo, diz que se calhar, o avô não está bom da cabeça...Porque quer que o comando da TV funcione, mas sem o infravermelho virado para a TV...
o meu pai acha que eu sou a minha irmã, repete vezes sem conta o nome dela, e não sabe dizer o meu nome...
a minha mãe resolveu ter um fanico no meio da rua, teve de ser transportada a casa pelos vizinhos...
eu resolvi ir fazer uma pequena cirurgia, sozinha, e quando saí do hospital, aparentemente bem, senti-me mal, tão mal, que andei durante uma hora a dormir dentro de um autocarro!!! (quando cheguei ao destino, mal conseguia andar, mas cheguei a casa...)
Depois existem ainda coisas mais fantásticas, como o facto de o meu pai se conseguir levantar por artes mágicas sozinhos e, andar a despir-se pela casa, deixando por exemplo, a fralda na banheira e o resto da roupa por onde calha...
Ou ainda, o facto de arrastar tanto as palavras, que para o entendermos, primeiro gravamos o que diz em "slow motion", e depois passamos a gravação em "fast forward"...
Há ainda o facto extraordinário de o meu filho mais velho estar a reagir à morte do pai como uma espécie de adulto, o que me faz muita confusão, porque aos meus olhos ele continua a ser o menino loirinho, que canta o "poquinho cameu uma belota"....
...
Não sei se é de propósito ou não, mas até certas pessoas chegadas a mim, dizem que estou fria e mais arrogante...(Amigos, não é por mal, é mesmo de propósito...)
Só tenho mais uma coisa a escrever, se alguns de vós, que me conhecem, que privam comigo, ou então, que conhecem quem esteja a passar pelo mesmo que nós e tenham atitudes idênticas, façam um favor a vós próprios...Levantem os olhos dos vosso "umbigos" e pensem bem, se conseguiriam viver esta vida maravilhosa, agrilhoados desta maneira e a viver a verdadeira prisão domiciliária...
Como vêm pelo meu relato, destes últimos dias, nem tudo é mau na doença cancro, também temos momentos em que o choro é trocado por gargalhadas monumentais, porque temos muito tempo pela frente para chorar....
Amigos e família, aqui fica o link, para poderem ouvir esta que vos escreve, a ser entrevistada pela grande Madalena Balça do programa da Antena 1, A rede da Rádio...
Oiçam, questionem e opinem...
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