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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
A luta ainda continua.
Até o meu pai resistir, essa malvada doença há-de levar porrada...O meu pai sairá perdedor, mas deixar-nos-á com uma lição valiosíssima...
Lutar sempre.
...
Digo-vos, pessoas, hoje custou-me horrores vê-lo...Queria ter desatado a correr dali para fora, e só parar quando estivesse bem longe, o que tendo em conta o meu "estado" de fumadora, deveria ser ao fim de 10 metros...Vá 15.
O médico do meu pai foge de nós, como o diabo da cruz...Não o recrimino. Sei que não deve ter muito para nos dizer, ou o que tem, não é fácil e estará à espera do momento oportuno.
Sinto a minha mãe exausta. Tenho muito medo por ela...
Hoje queria muito ter chorado. Não sai nada. Acho que se me esgotaram as reservas lacrimais...Como se não bastasse tive de ouvir um concerto de "Gospel" com aquelas "animadoras" musicas natalícias...Cheguei a pontos que a vontade era de mandar calar tudo e cortar os pulsos...Tive de aguentar...Como tenho de aguentar. No fundo acho que não me permito vacilar, já não é por mim, mas pelas expectativas que os outros depositam em mim...No entanto tenho a dizer-vos, quando cair, vou cair de joelhos...Porque irá ser inevitável. Ninguém é suficientemente forte, nem resistente, para sair incólume desta batalha...
Apática...Sim, sinto-me apática.
O meu pai teve de dar entrada de urgência, mais uma vez, no hospital...Infelizmente os Srs. profissionais do INEM, resolveram decidir que o transporte que o meu pai precisava, não era do INEM... "Porque pode haver algum caso mais urgente, uma reanimação, ou um acidentado que necessite mais deste transporte do que o seu pai..." Assim, na lata, se dizem estas coisas em frente a uma família que impotentemente vê o seu ente querido morrer mais um pouco todos os dias...No entanto não ficaram sem resposta, " Sim, eu entendo o vosso mal estar...No entanto os Srs não são a única ambulância de serviço, esta noite, na cidade de Lisboa pois não? Não considera um doente terminal, como um transporte urgente? Então os Srs. servem para transportar quem????"...E a minha indignação, juntamente com a minha língua, tomaram "asas"... Por ironia do destino, quis que uma hora e tal depois de darmos entrada, os mesmos Srs. do INEM, dessem entrada com um doente bastante alcoolizado...Bem pessoas, vocês não estão a ver a verdadeira "barraca"! "OH seu granda badameco...Então o meu pai, em estado terminal não tinha direito a ser transportado pelo INEM e este Sr. que, a única coisa que tem é um copo a mais, já tem direito a transporte???? Vocês só podem estar a gozar com a minha cara..."
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Portanto pessoas, a nossa noite de ontem não foi feliz. O meu pai está internado, provavelmente estes serão os seus últimos dias, mas com o meu pai, prognósticos só no final do jogo...
Que o panorama não está fácil, não, não está...
Que os estado geral dele está como nunca vimos, é verdade...
Depois de um dia e uma noite no S.O. subiu para a enfermaria. não recebemos nenhum telefonema, portanto deduzimos que esteja tudo na mesma, no entanto, amanhã, nunca se sabe...
O fim, segundo o médico dele, baseando-se no que lhe foi dito que era o estado dele desde 6ª feira, está por dias...
O facto de dormir muito, ter uma intensa diarreia, não comer nem beber, são tudo coisas que acontecem no fim da linha...Quanto tempo mais de sofrimento? Ninguém sabe...Só quando ele deixar de lutar e resolver desistir...
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Eu estou aqui. Sem sono, fome, vontade de chorar...A olhar para esta tela branca, com tanto para dizer, que nem sei por onde começar...
Socorro-me de tudo, como se de bóias de salvação, ou balões de oxigénio se trata-se...
Preciso de respirar, mas o peso que sinto no peito é tanto, que até dói.
Queria chorar, mas nem isso consigo...
Enfim pessoas. Aqui fica mais um relato, do que é esta vida...
Estes dias pessoas, não estão a ser fáceis...Nada, mesmo.
No entanto temos de viver...
Valem-me os ataques de choro, ridículos eu sei, em que faço as figuras mais tristes imagináveis...Valem-me os amigos, que do outro lado do telefone, me mandam chorar a plenos pulmões. Ao menos não choro com público, choro por mim e para o meu marido, que acha que o meu choro tem algo de enérgico e lhe dá vontade de rir...Wathever.
...
Nos últimos dias sou inundada com perguntas do tipo, "porque publicas certas coisas em relação ao teu pai?", ou então, "porque colocas fotos dele no Facebook?"...Porque é o meu pai, a nossa vida, e o facto de não quereres ler, ver ou saber de nós, não implica que ele, ou outra pessoa na condição dele, não esteja a morrer e a sua família a sofrer...
Se houve algo que aprendi, nestes quase 15 meses, foi que posso virar a cara, mas as coisas "feias" e "nojentas da vida continuam lá. Não vale a pena fingir, nem brincar ao "faz de conta".
E acho que essa prerrogativa, assenta que nem uma luva a esta pessoa que vos escreve, e a este blog que lêem...Eu podia escrever sobre mil e um assuntos, sem nunca mencionar a doença do meu pai, ou a do pai do meu filho. Eu podia nunca ter mencionado o falecimento dele, mas acho que escrever sobre isto, além de terapia, serve para as pessoas de bom coração, que estão cientes do que é a vida, verem este blog como uma lição de vida...Há tanta coisa a retirar das experiências desta família...Das vivências destes dois doentes.
Infelizmente nem tudo na vida é "cor de rosa" ou "azul céu", e fecharmos os olhos não adianta...Podemos optar por não ler este blog ou outros, não ler as noticias sobre homens que matam mulheres, mulheres que matam filhos, acidentes, desgraças em geral, mas elas existem...E não é por não queremos ler, ou ver na televisão que elas vão deixar de existir...
Este blog vai continuar a contar a "saga" desta família...Uns dias com mais humor, outros dias mais sério, mas no final, queiram ou não, o pai do meu filho morreu com uma doença terrível, e o meu pai há-de morrer também...
(E dou por mim, a escrever um post, sem edição, ou seja, eu escrevi, mas nem li...Está bonito, está, está...)
E parece que a fase de "blackout" me passou.
Por vezes também é bom, fecharmos a concha e pensarmos a sério no que nos move.
A vida troca-nos as voltas, faz-nos dar cambalhotas e saltos mortais...Revira-nos de dentro para fora.
Por aqui nada de novo. Apenas e só esta vida...
Fomos passear á televisão, percebi que realmente a minha mãe é a minha heroína, gostei de todos os afectos recebidos, gostei de poder, publicamente, demonstrar a minha gratidão por todos os que me aturam e, acompanham connosco esta doença...Gostei. Não me subiu à cabeça, não me pagaram nada, não me deixei de sentir a pessoa que sou, também não comecei a dar autógrafos, o que para alguém, que tem algum narcisismo escondido pode tornar-se um complexo violento...
Continuo a achar que não pertenço a este mundo, que vejo e sinto coisas que mais ninguém vê e sente. Continuo a achar que a crise de valores a que assistimos é pior do que todas as outras crises. Continuo também a achar, que o Homem é o seu melhor e por inimigo, o que por si só me parece um paradoxo e, isso pessoas angustia-me.
Continuo aqui, a assistir a este filme de terror, para o qual fui " convidada" sem querer...As coisas como devem calcular, vão de mal a pior, significando o pior, a maior decadência a que pode chegar um Ser humano...
Quando me perguntam como está o meu pai, respondo sempre, " na mesma, a morrer...", sei que algumas pessoas ficam tremendamente chocadas, mas é assim a vida. Ele luta com as parcas forças que tem, o que não faz dele um herói, mas sim um guerreiro. O estado dele, é tão delicado, que cada suspiro pode muito bem ser o último e, ter de viver com isto, passa para além da angústia.
Confesso, não tenho muita coragem para estar ao pé dele agora. Não reconheço aquele Ser, que jaz naquela cama como um vegetal...E isso é a pior tortura. No entanto continuo aqui...Não por ser heroína, nem melhor filha, nem sequer melhor pessoa...Mas porque esta foi uma luta em que decidi entrar de cabeça. Teria sido bem mais fácil voltar as costas e não querer saber, mas quando ele finalmente partir, quero ficar tranquila, que fiz tudo e dei tudo de mim, nem que chegue ao fim exausta.
Quero acima de tudo, que tudo o que escrevo e escreverei, sirva de consolo a alguém, porque é tão mais fácil virar a cara ao sofrimento alheio, do que estender a mão para ajudar...
Estou aqui pessoas, não fui, nem irei a lado nenhum.
Continuamos a tentar viver o dia-a-dia o melhor que podemos e sabemos, sempre à espera do último suspiro...
Aqui está o link do video, para quem ainda quiser ver...
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