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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
Parabéns pai...Comemoras os teus 71 anos...Estejas onde estiveres...
Pois é pessoas, cá andamos nesta vida...
Onde todas as palavras "entopem", todas as funções cerebrais que consegui manter.
Lentamente, muito lentamente, diga-se de passagem, começo a sentir a vida a voltar, a um estado que não é o normal, mas que já se parece com vida.
Ainda há "vícios" que não perdi...O bater na porta em vez de tocar à campainha, o ouvir barulhos e levantar-me em sobressalto, a angústia...O vazio, sobretudo...Esse companheiro de todas as horas.
Depois todas as coisas às quais fugia se pudesse...As ambulâncias em marcha de urgência, as urgências "daquele" hospital...
"Aquele", onde o meu pai morreu, e eu ainda não me conformo.
Tive de lá voltar.
Foi como pisar vidros com os pés descalços...As pessoas, as batas, as macas, os doentes, o local...Tudo mexeu tanto comigo...
Mas algum dia tinha de ser.
De resto, as pessoas que continuam a dizer-me que tenho de seguir em frente...Pois tenho. No MEU tempo. Não num tempo que não é o meu, ao meu ritmo, não ao de outros.
O luto faz-se assim.
Espera-se pacientemente que as feridas fechem, que nos habituemos a viver com o vazio e a dor, e só depois, talvez num dia de sol, conseguimos erguer a cabeça e seguir em frente...
Não era esperar que depois de quinze meses de tortura, o meu pai morresse e pronto, acabou...
Morreu já se pode seguir com a vida...
E a dor da perda? E o vazio da sua presença? Isso não se colmata do nada...
Aprende-se primeiro a viver com esta dor, para depois podermos seguir em frente...
Cada qual ao seu ritmo.
"A man is known by the silence he keeps..."
Oliver Herford
Pois é....Parece que hoje, me sinto menos mal que ontem.
Parece que hoje, sinto que estou menos só, tanto na vida, como nos objectivos. Apesar de muito boa gente, continuar a achar que sou doida varrida, quando digo que vou escrever um livro, que conte não só as histórias do meu pai e do pai do meu filho, mas também de outras pessoas...
O cancro não é uma sentença de morte para todos...Há esperança, nem que seja muito no fundo do túnel...
Digam que sou louca, insana, narcisista, o que vos parecer e me assentar melhor...Com ajuda ou sem ela, este livro há-de nascer.
O que acho mal, de mau tom e falta de "chá", é o facto de se prometer uma "ajudinha" e quando chega a hora da verdade...."Olha deu de frosques!"
Deve ser por eu ter este ar de aluada...É isso.
Ah, também pode ser por eu falar como os malucos, digo o que penso e o que sinto, se não gostam de ouvir, neste caso de ler, têm bom remédio...Ide e vede se estou na esquina...
Não gosto de conversas ocas, nem de pessoas sem palavra...Irritam-me. É como se passassem a mão pelo pêlo, "Vá toma lá um rebuçado que estás carente, morreu-te o pai e um amigo..."
Oh pessoas, olhai bem para mim! Por acaso vim aqui queixar-me, ou cantar o "fado da desgraçadinha"??????
Vim para este blog, de minha autoria, escrever o que me vai na cabeça e na alma. Se algum dia acharam que era uma desgraçada, que me vim lamentar, peço desculpa, mas a interpretação é vossa...
E de maneiras que é isto...Hoje estive assim, a pensar no facto de algumas pessoas acharem que sou doida...Pois sou. E pode levar tempo, mas sou tipo Pitbull, quando "mordo o osso" não há quem mo tire da boca!
O meu pai morreu à 1 mês...
Repito e torno a repetir esta frase diariamente...O meu pai morreu...
Tanta coisa mudou em nós neste mês, nestes 16 meses...
Não sei quem sou, neste momento. Perco-me, encontro-me...Perdida, nesta vida, para quando me encontrar, voltar forte e determinada...
Não está a ser fácil lidar com a perda dele. Uns dias em cima, outros bem no fundo.
Sinto imensa falta dele, hei-de sempre sentir. Mas antes não o ter, a tê-lo doente e incapaz, indefeso, dependente, completamente transfigurado...
Esta doença não matou só o meu pai, matou-nos a nós também...
Recordar estas últimas semanas, é tortura, acreditem...
Recordar o dia da sua morte, passado um mês, é como sonhar acordada, estar anestesiada a sofrer todos os horrores duma cirurgia penosa...
Enfim. Temos sempre de recordar.
O tempo...O tempo lá se há-de encarregar de nos ensinar o resto...
Passou um mês, mas nem por isso se tornou mais fácil dizer em voz alta, que o meu pai morreu...
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