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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
A cada dia que passa isto do luto, torna-se mais complicado...Tenho medo de me esquecer de quem o meu pai era...Do seu cheiro a sabão azul e branco, do som da sua voz, da aspereza das suas mão calejadas do trabalho...Da forma como conseguia assobiar entre os dentes...Da sua maneira de andar. De como ralhava comigo quando ia à pendura no meu carro...Acho que no processo individual de luto há uma fase da revolta. É onde estou. Revoltada por a vida ter sido muito ingrata e injusta, o meu pai devia ter tido mais tempo. Nós deveriamos ter tido mais tempo para o ver envelhecer...
A cada dia que passa, é como se colocassem uma pilha de tijolos em cima de mim, e o peso desses tijolos vai sendo cada vez mais insuportável...Não quero estar com ninguém, não me apetece falar...Sinto-me terrivelmente carente. Angustiada. Revoltada.
O meu pai partiu e não vai voltar.
Odeio que me digam, milhares de vezes por dia, "tens de lutar...não podes estar assim...tens de seguir em frente..."
Hellooooooooo!!!!!!
O luto de cada um de nós, é como uma impressão de A.D.N. pessoal e intrasmissivel. Não se faz luto em três semanas...Cada qual tem o seu ritmo, o seu tempo...
Eu cheguei à fase da revolta, quando disparo vou em todas as direcções...A poupada tem sido a minha mãe. Se a minha mãe fosse uma árvore, seria um carvalho, de certeza...Durável e resistente... Por dentro pode estar desfeita, mas por fora, firme e hirta que nem uma barra de ferro...
Escrever tem sido uma excelente terapia, no entanto, nas últimas semanas, o barulho na minha cabeça é tanto, que nem sei por onde começar...Não estou a dizer que oiço vozes, oiço a minha voz...E grito muito comigo. É tanta coisa pessoas...Tanta vontade de gritar, e chorar, e bater...Para nada. Porque nada trará o meu pai de volta, nem nada fará atenuar o inferno que vivemos durante quinze meses...
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