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Ai a vida do rico filho mais velho...

por lady magenta, em 13.02.15

 

 

Coragem, coragem, coragem... É a palavra que não me sai da cabeça há uma semana. Nem sei como falar sobre isto por isso vou enrolar até sair algo... Duma coisa eu sei, sei que tudo o que ficará para trás, o que ficará connosco e na nossa memória serão as coisas boas como por exemplo as alturas que refilavas com a TV a dizer que não ias para a China ou quando nos davas umas palmadas nas mãos quando estavas chateada connosco. Uma coisa te garanto avó, partiste apenas fisicamente. Continuas bem presente em todos nós e na nossa mente.
  Adiante... 2 anos e meio. Sim, 2 anos e meio é quanto tempo já vivo sem ti. Depois de cerca de ano e meio... epa, nem quero falar. Apenas sei que partiste há 2 anos e meio e ainda hoje as minhas noites se resumem a ti. Oh pai... a falta que tu me fazes... Sabes aquelas alturas que te dava uma vontade enorme de explodir e mandar tudo e todos passear? Aquelas alturas que até atiravas com os telemóveis contra a parede (hahaha)?? Pois, é em alturas como essas que me fazes falta, alturas que a minha única vontade é de fazer da parede um saco de boxe. Continuo ainda hoje a dizer que foi tão, mas tão injusto... Injusto, cedo demais... tanta coisa! A verdade é que não merecias. Aliás, nem tu nem ninguém, mas tu, uma pessoa tão humana, tão doce... oh pai... no outro dia sonhei que tudo não passava dum sonho (ironia do destino ham...), de repente acordei e adivinha lá... para meu espanto, claramente... era tudo um sonho, apenas não aquilo que eu queria que não passasse dum sonho. Voltando ao porquê de te estar a falar, talvez pela última vez sabes pai... Por incrível que possa parecer, acho que esta será a última vez que irei escrever para ti. Ou pelo menos a última que irei divulgar a alguém, porque começa a chegar a uma altura que a nossa "relação" é apenas nossa e eu sinto que as pessoas não compreendem que eu não estou sequer a brincar quando eu digo que te dou os bons dias, as boas noites, que falo contigo nos momentos de aperto e desespero, que falo contigo nos momentos de felicidade, que chamo por ti quando sinto a tua falta, que te agradeço quando as coisas correm como quero. Começo a achar que as pessoas julgam que eu sou maluco, mas afinal de contas, o quão são posso eu ser mentalmente? Uma vez li algures que o que nos faz viver é a nossa insanidade mental. Que sem ela, seríamos todos uma espécie de robôs em que todos seguiamos as regras que nos eram impostas e seriamos todos iguais na maneira de ser e nos sentimentos. Ou seja, a nossa insanidade mental era o que nos fazia diferentes dos outros, o que nos fazia arriscar nos momentos da vida, o que nos fazia viver cada dia como se fosse o último. Mas sim, é isto pai, é a última vez que irei falar para ti "publicamente". Sabes que a avó Laura partiu... quer dizer, claro que sabes pai, ela provavelmente já deve estar a teu lado, já devem de estar todos felizes por se reverem. O que me custou mais, foi que nos 2 anos e meio que passaram desde a tua morte até à dela, nunca ninguém foi capaz de lhe contar que tinhas partido. Tu, tu eras o seu neto querido pai, eras o mais velho e podendo ou não parecer, eras o que ela mais se orgulhava. Sabes que mais, sinto que muita, muita coisa ficou por dizer, tanto entre nós os 2, como entre vocês os 2... Aliás, acho que nunca ninguém diz tudo o que lhe vai na alma aos que ama. Acho que sempre que alguém parte, fica sempre algo por dizer, algo por fazer. Mas caramba, entre nós foi demasiado que ficou por fazer e dizer... Eu sei que uma vez tu disseste à mãe o orgulho enorme que tinhas em mim, mas sabes o que dói? Dói-me nunca me teres dito a mim. Dói-me ainda mais eu nunca te ter dito que apesar de tudo o que foi a tua vida, tu eras, és e sempre serás o meu orgulho, o meu exemplo, o meu ídolo... Nunca te disse que te amava sabes? Pelo menos numa conversa entre nós, mas acredito que saibas que na última vez que te vi com vida, dormias que nem um anjinho. E foram as palavras que proferi aos teus ouvidos, "Amo-te tanto, mas tanto pai." e além disso sei que também sabes da carta que te li no teu funeral. No teu pseudo funeral que eu pedi que todos me deixassem a sós contigo e ninguém teve a dignidade de respeitar o meu último desejo, de respeitar os nossos últimos 2 minutos. E que raiva que eu guardo de toda a gente por isso. Mas maior que toda a raiva que eu possa ter acumulada dentro de mim, a promessa que te fiz é superior. Lembras-te? "Prometo que vou entrar na linha e vou ser o rapaz que sempre quiseste que eu fosse pai." Eu lembro-me. Lembro-me dela todos os dias, em todos os momentos de raiva e angústia, em todos os momentos que me apetece... lançar um punho bem cerrado aos dentes de alguém compreendes pai? Já lá vai algum tempo sem te escrever... e acredita que não é por falta de pensamento, falta de vontade ou falta de algo por dizer, é mesmo falta de coragem... Principalmente depois da última semana. Sabes que... sabes que eu sinto que a última semana foi o final do capítulo que durou quase 4 anos. É o final do capítulo que começou com aquele telefonema que a avó disse que tinhas um tumor. Sabe bem, mas ao mesmo tempo que sabe bem saber que terminou, custa. Custa porque... porque é algo que não se esquece, que nos acompanha para sempre. Nem todos sentem as coisas da mesma maneira não é? A verdade é que na 6ª feira passada, entrei na tal salinha, vi a avó, dei 1 murro na parede e vim-me embora. Não me orgulho, pelo contrário, mas foi o que senti na altura e tinha de descarregar de alguma maneira pai... Desculpa, sei que não foi a coisa mais acertada a fazer. Epa, nem sei o que dizer, sinto que já estou aqui a enrolar tanto, mas tanto, que já nem digo nada de jeito. Apenas sei que, CORAGEM pai, foi preciso muita, muita coragem para viveres a vida como viveste, é preciso ainda mais coragem para viver a vida SEM TI. E acredita, que não é nada fácil, não é. Só queria que soubesses isso. Ficou muita coisa para dizer, muita coisa para fazer, mas eu passo isso tudo à frente e simplifico, faço o resumo. Amo-te, és o meu ídolo, o meu orgulho, o meu herói sem capa. Simples. Simples e rápido de se escrever, foi tão, mas tão difícil de dizer cara a cara. E por isso nunca me irei perdoar. Sei que talvez tu me perdoes, mas sabes o quão exigente eu sou comigo próprio. Também sei que sabes o quanto odeio despedidas. Mas acho que está na hora pai. Foram 2 anos e meio a pedir e a julgar que tudo era um sonho e que mais dia menos dia ia acordar. Mas não, a verdade dua e crua é que é tudo real, não é um sonho, e que estes 2 anos e meio são apenas o início de muitos anos até ao nosso reencontro. É como já referi antes pai, esta é a nossa despedida "em público". A partir de agora, passarão só a ser as nossas conversas, os nossos bons dias, as nossas boas noites. Não estou a dizer que te vou esquecer, pelo contrário! No passado domingo quando entrei em casa e senti o cheiro a tabaco por causa de todos os fumadores compulsivos que cá estiveram, bem, nem te digo nada. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que tinhas voltado, porque é algo que eu te associo. Mas não. Uma vez mais, ficou muito por dizer e fazer. Mas já disse o importante e o resto fica entre nós, para partilharmos daqui por muito, muito tempo. Está na hora pai. Está na hora de poder iniciar um novo capítulo e poder seguir em frente. Está na hora de me desprender e de ser feliz, tal como tu querias que eu fosse que eu bem sei, ou julgas que eu não sei que a tua prioridade era a felicidade do "teu menino"? Eu sei pai, eu sei... E é assim que eu fecho o capítulo mais duro da minha vida até agora pai. Não com um adeus, nem com esquecimento, nada disso, porque o que aconteceu marcou-me. Marcou-me de tal forma que se existe alguém com a capacidade de ver as feridas abertas da alma de uma pessoa... acho que seria capaz de ver algumas bem abertas e bem profundas... despeço-me então com a saudade imensa que há em mim e com um "Amo-te pai, até já."

 

- por Rui Monteiro, publicado no Facebook e copiado para o Blog da sua mãe querida.

 

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publicado às 17:25


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