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O cancro, essa doença malvada....

por lady magenta, em 18.10.12

 

 

Eu tenho um grave problema de comunicação. Ou algumas pessoas, têm um grave problema cognitivo, quando eu tento explicar, que esta vida, esta vida que a minha família e eu, vivemos desde à quase dois anos, não é nossa. Não é a nossa escolha, mas é a que temos para viver e, quanto a isso, quanto à grandeza da vida, podemos escolher...Ou a vivemos o melhor que podemos e sabemos, ou somos engolidos pela imensidão de tudo o que nos rodeia, e a dado momento, passamos pela vida sem realmente a viver.

Quando tenho dias maus, em que vejo o meu pai pior, ou as saudades do meu amigo, do pai do meu filho, apertam (e como apertam...), penso na vida...Penso no Sr.Varela, que acabou de perder a esposa. Penso nele, sentado noite após noite na esplanada do "Pastel de Nata" a ver e rever fotos da mulher, que partilhou a vida com ele, e agora, lhe deixou o coração estilhaçado e a casa vazia...Penso na dificuldade que ele tem em lidar com a dor dele, que ninguém pode fazer nada, mas, que basta um sorriso, uma palavra de conforto, e o dia dele melhora...A dor está lá, não há magia pessoas...Mas pode haver compaixão.

O meu pai não tem melhoras, nem pioras...O que a esta altura, não é bom, nem mau...É viver suspenso, à espera da morte, com medo, aterrorizados...

O meu pai à muito tempo que não dorme de noite, os terrores nocturnos, o medo de morrer não o deixam...Ele não dorme nem deixa dormir, logo as nossas noites são quase tão más como os nossos dias...E chora, todos os dias ele chora a pedir para morrer...A perguntar porque ainda cá está, que já devia ter partido, que a vida é injusta, porque o amigo, quase filho dele, já morreu e ele ainda não...E que do "outro" lado o Paulo o espera...E ele continua cá, sem morrer...

E eu tento, com muita força, explicar às pessoas que não mudei, adaptei-me apenas...A viver no "arame", à espera do tal telefonema, do tal último internamento, da tal última despedida...Enquanto esse momento não chega, vivo. O melhor que posso e sei. Com dias maus, com dias bons. Rio quando tenho de rir, choro, choro muito quando ninguém está a ver...Pulo, salto, grito, canto...

E gostava pessoas, gostavas que muitos de vós, que julgam que nada vos chega, tirassem o nariz do umbigo e olhassem à volta...Que abrissem os olhos e vissem que o Sr.Varela tem um desgosto sem fim, que a D. Adelaide acabou de perder o filho e não sabe como começar sequer a fazer o luto, que olhassem para o Rui e vissem nos seus olhos a tristeza que lhe vai na alma por ter perdido o pai....

Que vissem que esta vida não é nossa, e que o que tento escrever, é que esta não é a vida que escolhi, é a que tenho de viver, e também a vós vos pode acontecer o mesmo...

Eu acredito nos Homens, e acredito num sentimento chamado compaixão. Será que sou a utopia em pessoa? Será que ensandeci?

....

Não pessoas. Esta é a nossa vida, aquela que não escolhemos, aquela que nos foi "oferecida", e quando pensarem que controlam a vossa vida, lembrem-se de mim...Um dia eu também pensei que controlava a minha vida...Depois apareceram as doenças más, e o resto, o resto podem ler aqui.

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publicado às 13:18


2 comentários

De Margarida a 18.10.2012 às 14:58

Pois a verdade é que não controlamos nada. Apenas tentamos aproveitar o que nos vai aparecendo. E se forem coisas boas, fantásticos! Somos os máximo... mas a saúdinha, essa, quando falta, não há como controlar ou dar a volta por cima.

De momentosdisparatados a 26.10.2012 às 21:16


Porra de vida.
Hoje fui a um funeral de uma tia minha. Ainda que a familia estivesse mentalizada queiria acontecer, custa sempre. Nesta altura penso que quem estará a sofrer imenso é marido. Uma longa juntos e agora está sozinho com 90 anos. Um dos filhos dizia-me que há 3 anos vivia a mentalizar-se do que seria quando a mãe caisse numa cama, mas que não estava mentalizado para a perder. Beijinho

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