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O "câncaro", o meu pai, eu...

por lady magenta, em 22.02.12

 

 

Mais um dia na ronda hospitalar...

Tive o privilégio de te dar o almoço e, se comes-te bem!

Mas é duro...

Tão duro que nem há explicação...

De dia para dia estás mais fraquinho, quase nem te fazes ouvir...Mal consegues levantar os braços, as forças não chegam...Falar custa, mexeres-te também...

Hoje no meio de toda a tragédia ainda nos rimos...Porque pedis-te uns sapatos para quando te "fores embora"...A mãe acha que te traz umas galochas porque pode calhar estar a chover, eu achei que era melhor levar-te o fato da pesca!

Enfim...Temos de ir intercalando o riso com o choro...

Uma coisa é certa, a equipa que te acompanha é absolutamente extraordinária!

Todos...

Do mais humano que possam imaginar, e carinhosos...Para o meu pai e para nós.

Hoje a psicóloga andou atrás de mim..."Fale Susana, deite para fora..." Não consigo Dra...Não agora." 

O que me resta do dia? O carradão de beijinhos que me deste...

Que poderão ter sido os últimos, em jeito de despedida...Ou amanhã, ainda tenha tempo para muitos mais...

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publicado às 21:45

O "câncaro", o meu pai e eu...

por lady magenta, em 14.02.12

 

 

E cá andam estas vidas...

E de maneiras que o Dr. que acompanha o meu pai acha que ele é um herói...Por aguentar tanto em tão pouco tempo.

E nós, mesmo sem querer somos heróis forçados...Por termos de lidar com tudo isto, sem escapatória possível...E é tudo tão deprimente e mau.

Cada dia que passa definhas um pouco mais, o teu discurso é cada vez mais confuso, a tua cabeça já não te faz as vontades, tem vontade própria.

Um dia arrancas o saco da fístula permanente, noutro cais para o chão e bates com a cabeça, noutro ainda pedes à tua "marida" para jogar contigo à bola...Isto tudo resumido para dizer que o inevitável está a acontecer...

Não é bonito nem saudável.

Ter de pensar sequer na hipótese de te internar num centro de cuidados paliativos, que os há, é simplesmente aterrador...Só ter de equacionar a hipótese, é algo que por si só me revolta as entranhas...

Sabes pai, hoje é um daqueles dias em que sinto mesmo a tua falta...Porque o pai que eu conheci, já partiu...Este que ficou é simplesmente a sua sombra...

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publicado às 18:06

O "câncaro", o meu pai e eu...

por lady magenta, em 01.02.12

(imagem retirada da net)

 

Não...A esperança já não mora aqui.

...

Dia de mais uma consulta de oncologia. Dia em que a Dra. me pegou no braço e me fez deixar-te sair da sala para me dizer, que do ponto de vista clínico, não se pode fazer mais nada, a não ser controlar os sintomas e deixar a natureza seguir o seu caminho, ou seja, deixar-te partir pai...

Não, não estou preparada, mesmo sabendo que vais morrer. O guerreiro que há em ti, não é suficientemente forte para combater esse cabrão desse cancro fulminante que te devora todos os dias...

E não, não estou preparada para te ver morrer. Acho que nenhum filho que se preze está.

Não devia ser assim pai. Tu devias morrer, mas velhinho e sem doenças tão escabrosas... Ver-te definhar a cada minuto que passa é muito mais doloroso, do que encontrar-te morto devido a um ataque fulminante do que quer que seja...

Queria dizer que sim a tudo, que estou preparada para isto, que tem sido doloroso mas fácil acompanhar o teu dia-a-dia, que deixar-te morrer não custa nada.

Custa. Muito.

Hoje supliquei a uma amiga que não me deixe só quando partires. Expliquei-lhe o que a Dra. me disse e, ela que é sempre tão animadora e optimista, só me disse que não me preocupa-se, jamais sairia do meu lado...

A única coisa que ainda me atrevo a pedir pai, é que faças o favor, de quando tiveres de partir, seja em paz e que de preferência, eu não esteja por perto...

Já é muito mais que mau, ver-te assim portanto se não for de um grande incómodo, que não te atrevas a morrer comigo do teu lado! Já basta o trauma de te ver pele e osso, amarelo, magro quase cadavérico...Não me faças isso pai...

Não peço a Deus, porque não acredito na sua existência...Se ele existisse, de certeza que não existiria uma forma de morrer tão horrenda.

A minha opinião vale, pelo que vale...Mas acredito que para morrer, não é preciso sofrer tanto...

Ai pai...Não imagino a minha vida sem ti, mas também não te imagino a sofrer muito mais...

Segundo a Dra. o fim aproxima-se a passos largos.

Só podemos esperar que seja breve e indolor.

...

E ficamos aqui, como espectadores anónimos enquanto definhas para um mal tão asqueroso...

Nenhum guerreiro aguenta uma tão dura batalha, mas enquanto lutares estarei do teu lado incondicionalmente...

Mais um dia pai e um dia de cada vez...

 

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publicado às 19:43

Destilando...# 1

por lady magenta, em 06.01.12

 I'll just pretend to hug you until you get here

(imagem retirada da net...e sim, precisava de um abracinho.)

 

 

E cá ando eu...

E afinal as consultas de cuidados paliativos não são, de todo, horríveis como imaginei.

São conduzidas por profissionais, do mais competente possível e realmente direccionadas para providenciar todo o apoio necessário a quem, infelizmente, tem de experimentar passar por doenças como a do bicho "câncaro"...

Gostei.

Gostei acima de tudo de não tratarem o meu pai como um coitadinho, de o ouvirem e verem como doente oncológico que é.

Gostei ainda mais de fazerem por incluir a família directa na sua doença...É óbvio que chorei. Pela primeira vez chorei em frente de toda a gente.

Isto hoje está assim um bocado para o dificil, mas no entanto, sai desta consulta com a certeza de que tenho um suporte "na porta dos fundos".

E que afinal vou ter direito a ser seguida, bem como o resto da família...

Já não me sinto assim tão só.

...

Adiante.

Como resolução de ano novo, resolvi fazer uma limpeza na minha vida.

Quem interessa irá continuar caminho comigo.

Os outros, temos pena!

Chamem orgulho, mau feitio, apelidem como lhes aprouver...Não estou nem aí, como se canta...

Não quero saber dos que não querem saber de mim. Afinal, é como diz o velho ditado "é nos apertos que vimos com quem contamos"...

Fartei-me de ter de ser eu telefonar e a procurar pessoas, quando as mesmas, se estão a borrifar. Se é uma questão de amor próprio, óptimo. Significa que o meu, apesar de tudo, está bom e recomenda-se. Afinal não nasci para mendigar e, por mais que me custe tomar certas decisões, quando as tomo é de vez.

Agora vou ficar por aqui...E sim Sra. terapeuta, prometo que não vou pesquisar coisinhas deprimentes na net que me deixem ainda pior...Olhe vou ali ler uns blogs que sigo, pode ser que leia coisas que me inspirem para passar o final de semana mais animada...Boa?

 

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publicado às 20:33

O "câncaro", o meu pai, eu e os outros...#21

por lady magenta, em 28.11.11

(imagem retirada da net)

 


 

E ao fim de 15 dias de internamento, uma passagem pela U.CI.P. , com direito a uma fuga na "canalização", estamos finalmente em casa...

Não é que ache que eras mal tratado ou cuidado, bem pelo contrário, mas pela canseira e pressão psicológica...E pelo ambiente e, por todas as histórias que por mais que não queiramos saber, as pessoas insistem em contar...Ou então, a minha querida agente indiscreta Maria Leonor, fazia questão de indagar!

Wathever...

Ao menos agora o teu neto já não chora com muita pena do avô e, saudades..."Tantas, tantas mãe!"...

E ao menos agora já presencias quando, em vez de colocar o açúcar na chávena do café, o colocar no copo de Ice Tea! Ou então quando tornar a colocar o prato do jantar no caixote do lixo, em vez de dentro do lava-loiça...É que a minha "molécula" está um bocado para o abananada...Tive de aprender algumas coisas estes últimos dias. Por exemplo, a despejar o teu saco do dreno (e não...não é bonito, nem cheiroso, nem agradável!!! vais começar a comer coisas cheirosas! rosas, sabonetes, perfumes...etc..) Também aprendi para que servem afinal os cuidados paliativos...E não, também não gostei de ter de aprender...E também não me quero debruçar a sério sobre o assunto...

Acho que neste momento o que queria mesmo, era esquecer as palavras da enfermeira Daniela " Aproveite...O meu pai partiu com o mesmo tipo de tumor que o seu pai, por isso sei o que estão a passar...Aproveite muito e divirtam-se...Gozem-se, amem-se...Porque este vai ser o vosso último natal..."Credo... Eu não quero isto! Eu não quero aprender a fazer pensos, a reconhecer sintomas, a despejar sacos de drenos, não quero saber de cuidados paliativos nem de equipas pluridisciplinares!!!! Eu quero fugir daqui e esquecer isto tudo....Quero levar os meus filhos e poupá-los daquilo que ainda está para vir...Eu não quero que tenhas de passar por isto, nem tu nem ninguém...

Mas depois acordo e vejo que não há milagres. Que a realidade é diferente e que não vale a pena fugir...é como as fraldas do cocó dos miúdos, podemos ignorar o cheiro, mas mais cedo ou mais tarde, vamos mesmo ter de lidar com o cocó!!!

Pois... a analogia não foi das melhores, mas ficaram com a ideia, certo?

Enfim pai...Eu queria não ter de passarmos por isto, mas como tem de ser, olha passemos!

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publicado às 23:16


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