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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
(imagem retirada da net)
Não...A esperança já não mora aqui.
...
Dia de mais uma consulta de oncologia. Dia em que a Dra. me pegou no braço e me fez deixar-te sair da sala para me dizer, que do ponto de vista clínico, não se pode fazer mais nada, a não ser controlar os sintomas e deixar a natureza seguir o seu caminho, ou seja, deixar-te partir pai...
Não, não estou preparada, mesmo sabendo que vais morrer. O guerreiro que há em ti, não é suficientemente forte para combater esse cabrão desse cancro fulminante que te devora todos os dias...
E não, não estou preparada para te ver morrer. Acho que nenhum filho que se preze está.
Não devia ser assim pai. Tu devias morrer, mas velhinho e sem doenças tão escabrosas... Ver-te definhar a cada minuto que passa é muito mais doloroso, do que encontrar-te morto devido a um ataque fulminante do que quer que seja...
Queria dizer que sim a tudo, que estou preparada para isto, que tem sido doloroso mas fácil acompanhar o teu dia-a-dia, que deixar-te morrer não custa nada.
Custa. Muito.
Hoje supliquei a uma amiga que não me deixe só quando partires. Expliquei-lhe o que a Dra. me disse e, ela que é sempre tão animadora e optimista, só me disse que não me preocupa-se, jamais sairia do meu lado...
A única coisa que ainda me atrevo a pedir pai, é que faças o favor, de quando tiveres de partir, seja em paz e que de preferência, eu não esteja por perto...
Já é muito mais que mau, ver-te assim portanto se não for de um grande incómodo, que não te atrevas a morrer comigo do teu lado! Já basta o trauma de te ver pele e osso, amarelo, magro quase cadavérico...Não me faças isso pai...
Não peço a Deus, porque não acredito na sua existência...Se ele existisse, de certeza que não existiria uma forma de morrer tão horrenda.
A minha opinião vale, pelo que vale...Mas acredito que para morrer, não é preciso sofrer tanto...
Ai pai...Não imagino a minha vida sem ti, mas também não te imagino a sofrer muito mais...
Segundo a Dra. o fim aproxima-se a passos largos.
Só podemos esperar que seja breve e indolor.
...
E ficamos aqui, como espectadores anónimos enquanto definhas para um mal tão asqueroso...
Nenhum guerreiro aguenta uma tão dura batalha, mas enquanto lutares estarei do teu lado incondicionalmente...
Mais um dia pai e um dia de cada vez...
(imagem retirada da net)
Acredito piamente, que em situações como a que estou a passar, ninguém saiba bem o que dizer ou como agir...
Mas também sei que temos a extraordinária capacidade de dizer coisas, menos felizes...
Eu por mim, tenho a estranha capacidade de me rir alto e bom som, de tudo o que é estranho, macabro e triste. Sou do tipo de pessoa a quem dá valentes ataques de riso em velórios, se ri que nem uma perdida quando vejo alguém a cair na rua... Por isso não levo a mal e, compreendo perfeitamente que os que falam comigo me digam, recorrentemente -"não sei o que te hei-de dizer"; "não tenho palavras"...
O que de todo não acho normal, mas até compreendo, são coisas do tipo, "tens de ir já fazer exames"; "vais morrer do mesmo"; "que idade o teu tinha", e outras tantas que nem guardei por serem exageradamente estúpidas...
Que a herança genética não é das melhores já sei, no entanto, não significa que vá desenvolver a doença.
O meu pai tem 69 anos...Ainda cá está.
Fazer exames para quê? Poderei até morrer atropelada... Poderei até morrer de velha.
Não vou fazer dos factores genéticos a minha cruzada pessoal.
Vou gozar os momentos que me restam com o meu pai, que AINDA cá está... Não ficar hipocondríaca só por ele estar a morre de cancro, que pensávamos ser no cólon e afinal é no pâncreas... Enfim.
Por estas e outras tantas que nem vale a pena mencionar, é que sempre que falo com alguém peço, "por favor, vou falar contigo, mas depois não me faças perguntas..."
É por estas e por outras que dou respostas menos felizes e, ainda têm o descaramento de me dizer que tenho mau feitio...
Se respondesse à letra, tenho a certeza que já ninguém me falava...
Se está a ser fácil? Óbviamente que não. Com comentários destes, ainda bato em alguém...Depois posso sempre alegar um súbito momento de loucura devido às circunstâncias.
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