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Ai a minha vida....

por lady magenta, em 01.02.13

 

 

Nada como um momento de reflexão, para concluirmos que por vezes, estamos literalmente por nossa conta.

Não há tempo, não há pessoas, não há nada, que cure o que está doente, ou ajude a completar os puzzles que existem em nós, desfeitos...

Durante todo o tempo em que o meu pai esteve doente, tive de fazer uma "limpeza" na minha cabeça, na minha vida.

Infelizmente, alguns amigos deixaram de o ser, outros, que não sabia serem amigos, revelaram-se. Tive provas irrefutáveis, de que a lei da retribuição existe e não perdoa...

Fui orgulhosa e tive de o deixar de ser...Tive de perdoar. Não esqueci, porque não sofro de amnésia! Mas perdoei e não deixei rancores nem mágoas...

O que tinha a dizer ao meu pai disse. O que tínhamos de resolver, resolvemos...Sem mágoas ou arrependimentos.

Um dia ele teria mesmo de partir, e eu, teria de o deixar ir...Não era preciso ser desta forma.Mas foi assim.

A fase da raiva, no luto, leva tempo a resolver...Não quero medicamentos, não estou doente, não me sinto deprimida...Sinto muita saudade e muita raiva...E um vazio...

Preciso de tempo. Para mim, segundo a minha médica...Para caminhar, para escrever, para fotografar. Para que a minha cabeça pare, se arrume e me deixe passar à fase seguinte, a fase da negociação...

Não tenho nada para negociar. O que havia a ser negociado, ainda fui a tempo de o fazer com o meu pai lúcido.

Não sinto que ficássemos com algo por dizer...Dissemo-lo à nossa maneira. Tínhamos grandes conversas só de olhares, conversas mudas em que dizíamos tudo...Neste aspecto, fui uma privilegiada. Quantos filhos que perdem pais poderão dizer o mesmo?

O tempo, ainda me deu tempo...Por isso agradeço os 15 penosos e horriveis meses da doença do meu pai. Ele sofreu, nós sofremos com ele, mas tivemos tempo para tudo....Pelo menos eu tive.

...

"Pai, sei que estás presente...Não sei explicar como...Se calhar estou louca! Ou demente...As "nossas" músicas tocam quando penso em ti, os nossos números aparecem por todo o lado...As coisas boas que deveriam ter acontecido antes, começam a acontecer agora e, por mais que não queira pensar assim, eu céptica me confesso, acredito que tenha dedo teu...Pai, amo-te daqui até onde estejas e sinto tanto a tua falta! Ah pai...Este buraco que teima em não deixar de doer...Fazes-me tanta falta pai...Um beijinho grande..."

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publicado às 14:36

O "câncaro", essa doença malvada...

por lady magenta, em 26.10.12

 

 

Pois é, eu sei que ando afastada...

Não dou noticias, não digo nada...Mas os silêncios também têm muito para ouvir, logo, se estou calada, imaginem o que grito....

Ninguém ouve, porque esta dor não é para ser partilhada, é só minha. Por vezes, permito-me emprestá-la a alguém, por vezes...Não posso andar sempre a massacrar as pessoas que me têm ajudado.

...

Na quarta-feira foi dia de mais uma consulta. Acabámos por ficar doze horas no hospital...Repor líquidos e potássio...Nada mais.

Nos últimos dias não descemos degraus, descemos uma rampa enorme.

O médico resolveu chamar-nos e dizer que o fígado já está completamente destruído, por isso a fase terminal está...No fim.

Na próxima crise grave, só podemos ficar a dar a mão ao meu pai e temos de o deixar partir...

Porquê?...

O que sinto deve ser algo parecido com, uma mão gigante que me rasga as entranhas e me arranca o coração...

Não me sinto nada. Não somos nada.

Esta maldita doença, transforma-nos a vida, muda-nos a alma...

O meu pai está mesmo a morrer...E não há nada, nem ninguém que possa fazer seja o que for.

...

Chorei tanto na porta do hospital, pessoas...Sentada no chão, à chuva...

Sim, nós tínhamos consciência de que este seria o desfecho inevitável, mas uma coisa é pensar neste momento, outra coisa é saber que ele está ali...Ao virar de cada minuto.

Nunca me senti tão esmagada pela impotência da vida, como agora.

Porra, eu perdi três filhos, eu acabei de perder um amigo...Mas isto, pessoas, isto é quase irreal...É como se a vida se torna-se finalmente real, e tudo o que andei a viver até agora fosse um filme....

Enfim pessoas...

Sinto-me realmente parte de algo que me transcende, que é tão maior que eu, que mesmo munida de todas as forças que tinha, e as outras que fui aprendendo a usar, e que vieram sabe-se lá de onde, mesmo assim, a impotência face a esta loucura toda, engoliu-me...Não sei onde ando, o que faço, o que penso...

Sinto o peso da enormidade da vida, na insignificância do meu Ser...

E não é fácil vestir esta minha pele.

O meu pai está a morrer, mesmo...E eu acho que ainda não acredito no que nos foi acontecer...Ninguém merece perder um bom amigo, pai de um filho maravilhoso, e o seu próprio pai...Mas acontece pessoas, às mãos de uma doença tão má e terrivel, que é como ter o inferno na terra.

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publicado às 21:09


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