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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
E os dias passam...
E não há dia nenhum, em que pessoas me digam que temos de estar preparadas, que o fim está ao virar da esquina. No entanto, não se torna mais fácil. A impotência esmaga-nos com tal força, que nem há palavras suficientes para definir o que sentimos...
Triste, dura e cruel realidade. Chegarmos a um hospital, para com tamanha e esmagadora realidade, sermos obrigados a assistir ao fim da vida de alguém...Sem nada podermos fazer, para que esse fim chegue pacifico.
Ontem espetaram uma faca no meu peito e deixaram-na ficar. Hoje a realidade foi tão esmagadoramente dura, que quando sai para a rua, vomitei-me toda.
A minha irmã chora, a minha sobrinha, a "princesa" do meu pai, demonstrou ser a menina de 9 anos, mais corajosa que conheço...Viu o avô naquele estado e não vacilou por um segundo...Cantou, contou histórias, falou para ele, completamente alheada da realidade. Ela ainda consegue ver, quem ele era, não quem ele se tornou...
...
Pessoas, esta vida está dura...Esta realidade não é a que queríamos, nem a que desejámos um dia...É a nossa realidade e, a de tantas outras famílias perdidas por aí...É a realidade com que temos de nos confrontar, mas nem por isso, se torna mais fácil viver esta vida...
Estes dias pessoas, não estão a ser fáceis...Nada, mesmo.
No entanto temos de viver...
Valem-me os ataques de choro, ridículos eu sei, em que faço as figuras mais tristes imagináveis...Valem-me os amigos, que do outro lado do telefone, me mandam chorar a plenos pulmões. Ao menos não choro com público, choro por mim e para o meu marido, que acha que o meu choro tem algo de enérgico e lhe dá vontade de rir...Wathever.
...
Nos últimos dias sou inundada com perguntas do tipo, "porque publicas certas coisas em relação ao teu pai?", ou então, "porque colocas fotos dele no Facebook?"...Porque é o meu pai, a nossa vida, e o facto de não quereres ler, ver ou saber de nós, não implica que ele, ou outra pessoa na condição dele, não esteja a morrer e a sua família a sofrer...
Se houve algo que aprendi, nestes quase 15 meses, foi que posso virar a cara, mas as coisas "feias" e "nojentas da vida continuam lá. Não vale a pena fingir, nem brincar ao "faz de conta".
E acho que essa prerrogativa, assenta que nem uma luva a esta pessoa que vos escreve, e a este blog que lêem...Eu podia escrever sobre mil e um assuntos, sem nunca mencionar a doença do meu pai, ou a do pai do meu filho. Eu podia nunca ter mencionado o falecimento dele, mas acho que escrever sobre isto, além de terapia, serve para as pessoas de bom coração, que estão cientes do que é a vida, verem este blog como uma lição de vida...Há tanta coisa a retirar das experiências desta família...Das vivências destes dois doentes.
Infelizmente nem tudo na vida é "cor de rosa" ou "azul céu", e fecharmos os olhos não adianta...Podemos optar por não ler este blog ou outros, não ler as noticias sobre homens que matam mulheres, mulheres que matam filhos, acidentes, desgraças em geral, mas elas existem...E não é por não queremos ler, ou ver na televisão que elas vão deixar de existir...
Este blog vai continuar a contar a "saga" desta família...Uns dias com mais humor, outros dias mais sério, mas no final, queiram ou não, o pai do meu filho morreu com uma doença terrível, e o meu pai há-de morrer também...
(E dou por mim, a escrever um post, sem edição, ou seja, eu escrevi, mas nem li...Está bonito, está, está...)
Eu tenho um grave problema de comunicação. Ou algumas pessoas, têm um grave problema cognitivo, quando eu tento explicar, que esta vida, esta vida que a minha família e eu, vivemos desde à quase dois anos, não é nossa. Não é a nossa escolha, mas é a que temos para viver e, quanto a isso, quanto à grandeza da vida, podemos escolher...Ou a vivemos o melhor que podemos e sabemos, ou somos engolidos pela imensidão de tudo o que nos rodeia, e a dado momento, passamos pela vida sem realmente a viver.
Quando tenho dias maus, em que vejo o meu pai pior, ou as saudades do meu amigo, do pai do meu filho, apertam (e como apertam...), penso na vida...Penso no Sr.Varela, que acabou de perder a esposa. Penso nele, sentado noite após noite na esplanada do "Pastel de Nata" a ver e rever fotos da mulher, que partilhou a vida com ele, e agora, lhe deixou o coração estilhaçado e a casa vazia...Penso na dificuldade que ele tem em lidar com a dor dele, que ninguém pode fazer nada, mas, que basta um sorriso, uma palavra de conforto, e o dia dele melhora...A dor está lá, não há magia pessoas...Mas pode haver compaixão.
O meu pai não tem melhoras, nem pioras...O que a esta altura, não é bom, nem mau...É viver suspenso, à espera da morte, com medo, aterrorizados...
O meu pai à muito tempo que não dorme de noite, os terrores nocturnos, o medo de morrer não o deixam...Ele não dorme nem deixa dormir, logo as nossas noites são quase tão más como os nossos dias...E chora, todos os dias ele chora a pedir para morrer...A perguntar porque ainda cá está, que já devia ter partido, que a vida é injusta, porque o amigo, quase filho dele, já morreu e ele ainda não...E que do "outro" lado o Paulo o espera...E ele continua cá, sem morrer...
E eu tento, com muita força, explicar às pessoas que não mudei, adaptei-me apenas...A viver no "arame", à espera do tal telefonema, do tal último internamento, da tal última despedida...Enquanto esse momento não chega, vivo. O melhor que posso e sei. Com dias maus, com dias bons. Rio quando tenho de rir, choro, choro muito quando ninguém está a ver...Pulo, salto, grito, canto...
E gostava pessoas, gostavas que muitos de vós, que julgam que nada vos chega, tirassem o nariz do umbigo e olhassem à volta...Que abrissem os olhos e vissem que o Sr.Varela tem um desgosto sem fim, que a D. Adelaide acabou de perder o filho e não sabe como começar sequer a fazer o luto, que olhassem para o Rui e vissem nos seus olhos a tristeza que lhe vai na alma por ter perdido o pai....
Que vissem que esta vida não é nossa, e que o que tento escrever, é que esta não é a vida que escolhi, é a que tenho de viver, e também a vós vos pode acontecer o mesmo...
Eu acredito nos Homens, e acredito num sentimento chamado compaixão. Será que sou a utopia em pessoa? Será que ensandeci?
....
Não pessoas. Esta é a nossa vida, aquela que não escolhemos, aquela que nos foi "oferecida", e quando pensarem que controlam a vossa vida, lembrem-se de mim...Um dia eu também pensei que controlava a minha vida...Depois apareceram as doenças más, e o resto, o resto podem ler aqui.
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