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Porque nem tudo o que luz é ouro e nem tudo o que brilha é prata...
A cada dia que passa isto do luto, torna-se mais complicado...Tenho medo de me esquecer de quem o meu pai era...Do seu cheiro a sabão azul e branco, do som da sua voz, da aspereza das suas mão calejadas do trabalho...Da forma como conseguia assobiar entre os dentes...Da sua maneira de andar. De como ralhava comigo quando ia à pendura no meu carro...Acho que no processo individual de luto há uma fase da revolta. É onde estou. Revoltada por a vida ter sido muito ingrata e injusta, o meu pai devia ter tido mais tempo. Nós deveriamos ter tido mais tempo para o ver envelhecer...
A cada dia que passa, é como se colocassem uma pilha de tijolos em cima de mim, e o peso desses tijolos vai sendo cada vez mais insuportável...Não quero estar com ninguém, não me apetece falar...Sinto-me terrivelmente carente. Angustiada. Revoltada.
O meu pai partiu e não vai voltar.
Odeio que me digam, milhares de vezes por dia, "tens de lutar...não podes estar assim...tens de seguir em frente..."
Hellooooooooo!!!!!!
O luto de cada um de nós, é como uma impressão de A.D.N. pessoal e intrasmissivel. Não se faz luto em três semanas...Cada qual tem o seu ritmo, o seu tempo...
Eu cheguei à fase da revolta, quando disparo vou em todas as direcções...A poupada tem sido a minha mãe. Se a minha mãe fosse uma árvore, seria um carvalho, de certeza...Durável e resistente... Por dentro pode estar desfeita, mas por fora, firme e hirta que nem uma barra de ferro...
Escrever tem sido uma excelente terapia, no entanto, nas últimas semanas, o barulho na minha cabeça é tanto, que nem sei por onde começar...Não estou a dizer que oiço vozes, oiço a minha voz...E grito muito comigo. É tanta coisa pessoas...Tanta vontade de gritar, e chorar, e bater...Para nada. Porque nada trará o meu pai de volta, nem nada fará atenuar o inferno que vivemos durante quinze meses...
E apesar, de tudo o que se passa nesta minha vida atribulada, deixo-vos uma citção do queridissimo "tio" Miguel Torga...Já naquele tempo, ele sabia tão bem o que escrevia, como o que dizia...
"É um fenómeno curioso:
O país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto.
Falta-lhe o romantismo cívico da agressão.
Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados...."
Miguel Torga, Diário (17-09-1961)
E ao 8º dia "mandaram-te" embora...Assim. Sem dó nem piedade.
E se hoje fosse o dia, daqueles dizeres dos pacotinhos de café, "algum dia desapareço...hoje é o dia!" Eu já tinha desaparecido.
É que foi mesmo o dia do cocó diarreia!(e ainda não acabou!)
Raios partam este maldito dia...
Já praguejei, já ordinarei, já se me fundiu a merd@ do médio do carro e a lâmpada da matrícula, já um pombo esvoaçou contra mim, já pisei um cocó de cão...Fada-se que até para andar na rua tenho de ter sorte!...
...
Noutro campo...
Já ouvi muitas desculpas do pessoal hospitalar, mas também já puxei dos galões e já lhes disse que não sou uma anormaloide qualquer! Que se eles estudaram eu também! E fiz questão de que, já que estavam tão apressados para vagar a cama do meu pai, que então ele sairia com a roupa do hospital, a qual, eu devolveria um dia destes!(sim, já que nos informaram de que não dispunham de tempo para aguardar a chegada da roupa dele...)
...
E noutro campo ainda...
Esta barraca instalou-se(estou tão brejeira e virada ao povão hoje... que chique que sou e tal e não quê...) porque os fofos dos nossos Srs. "des"governantes com excesso de burocracia,(que até lhes dizia para meterem os papeluchos nos orifícios anais e peneais, mas isto saído da boca, ou das pontas dos dedos de uma "laide" parece mal e tal...) resolveram fechar as urgências do Hospital Curry Cabral, pois iria abrir o santo graal do Hospital de Loures...Mas...(todas as comédias têm um "mas"...tenho de perceber qual é o "mas" da comédia em que se tornou a minha vida...) Esqueceram-se de que para uma urgência hospitalar funcionar plenamente é preciso muuuiiitttooo trabalho e logística e a "cabr@" da burocracia que não foi simplificada...Ou seja, por exemplo, o hospital de Loures tem quase todas as valências incluindo psiquiatria, mas a chefe de serviço, está sentada na secretária porque ainda não pode receber os respectivos doentes, pois a put@ da burocracia não soube ser simplificada!!!! Noutros serviços, como por exemplo o que se responsabiliza e controla as infecções hospitalares, não funciona a 100% porque não foi nomeada toda a equipa...And so on and on....
E não me perguntem como sei. (Acho que são os meus poderes mediúnicos a funcionar...)
...
E noutro campo ainda....(Acho que me começo a repetir e isto a mim não me soa nada bem...)
O meu pai andou. Sozinho. E fala coerentemente.
E eu, que jurava a pés juntos que ele partiria esta semana, tal não era a degradação do seu estado de saúde, pensei ter presenciado um milagre de S. Lázaro... Até o médico dele não soube o que me dizer..."sem palavras"...Mesmo.
No final de contas, está em casa e ponto final....
E este dia foi tão violento, e com discussões e acusações tão feias e violentas, nas palavras proferidas, que se eu fosse crente nalguma coisa, já me estava a flagelar de silício à volta das zonas mais sensíveis!!!!
Enfim...Haja pachorra para os que aturam e para eu me aturar a mim...Estou intragável, com humor de cadela sarnenta e enxertada em corno de cabrão!
(agora é que acho que foi tudo...)
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